Dezenove mulheres, adolescentes e até crianças são vítimas de abusos sexuais por dia em Minas. A média leva em conta os estupros e importunações registrados apenas em janeiro, que terminou com 598 crimes. Quase metade é cometida contra vulneráveis: menores de 14 anos ou pessoas que não puderam oferecer resistência, como em situações de embriaguez.
O mesmo levantamento da Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG) mostra que os crimes sexuais aumentaram mais de 20% no primeiro mês deste ano, em relação ao mesmo período de 2022.
“Temos no Brasil uma enorme cultura da masculinidade, que vem desde a colonização. Essa coisa de que o homem é o proprietário da mulher. Isso é replicado até de maneira ingênua nas escolas e pelas famílias, como a história da Bela Adormecida. Vemos, ano após ano, que os casos continuam acontecendo porque continuamos reproduzindo, seguimos ensinando as crianças”, explica a professora de sociologia da UFMG, Ludmila Ribeiro.
A professora da UFMG acrescenta que não “existe uma fórmula mágica” para enfrentar a situação. As ações precisam ser tomadas na infância. “Só vamos resolver o problema mudando o jeito que educamos meninos e meninas. Isso pode ser até repensar o conteúdo pedagógico que é ensinado. É essencial que a gente tenha uma mudança no modelo educacional e também no de assistência social que ajude mais no acolhimento.
Grito por socorro
Enquanto a mudança não chega, casos cada vez mais chocantes são registrados. No dia 31 de janeiro, um homem de 39 anos foi preso em BH suspeito de estuprar ao menos três mulheres, sendo uma menor e uma grávida. No mesmo dia, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, mais um foi detido também por estuprar uma adolescente, de 14 anos, após uma festa.
Em todos os casos, as vítimas procuram a polícia para pedir socorro. A denúncia é peça-chave para punir os agressores, destaca a delegada Cristiana Angelini, da Delegacia da Mulher de Belo Horizonte.
“Apesar de ter uma legislação de suporte às vitimas, algumas ainda não denunciam. Entre os motivos podem ser o medo de ser julgada pela sociedade, de sofrer represálias do agressor e até o sentimento de vergonha e pressão social”, aponta a policial, que também falou sobre a falta de informação.
Na capital existe a Casa da Mulher Mineira (na avenida Augusto de Lima, 1845 – Centro), especializada em atendimento e acolhimento das vítimas de violência sexual.
“A vítima é acolhida, conta o que aconteceu e faz o boletim de ocorrência. A depender do caso, ela vai ser levada para o hospital. Em caso de estupro, recebe remédios e faz r exames. Depois nós vamos ouvi-la e iniciar as investigações”, disse a delegada.
Medidas protetivas
Para tentar frear a violência contra a mulher, a Polícia Civil lançou uma cartilha que mostra a importância das medidas protetivas. Nela, a vítima pode entender como e quando acionar uma medida protetiva e, também, as delegacias especializadas para o atendimento.
Fonte: Hoje em Dia