Eventos ocorridos em nossos primeiros anos de vida, muitas vezes herdados emocionalmente dos pais ou avós, podem influenciar profundamente nosso comportamento ao longo da vida. O psicólogo Rodrigo Tavares Mendonça afirma que “todas as pessoas constroem crenças sobre si mesmas, os outros e o futuro”. Segundo ele, “essas crenças podem contribuir positivamente para o desenvolvimento da pessoa na sociedade ou, ao contrário, causar padrões disfuncionais de comportamento, levando a frustrações e insatisfações repetidas”. Experiências passadas de intenso sofrimento, portanto, podem facilitar a construção de crenças negativas sobre si mesmo, os outros e o futuro, formando o que chamamos de trauma.
📱Participe do Canal Portal Onda Sul no WhatsApp
“Traumas são experiências passadas de sofrimento que ainda afetam intensamente a pessoa no presente, fazendo com que ela reaja como se estivesse revivendo o sofrimento”, explica Rodrigo. Ele dá o exemplo da “negligência materna”. “Se uma criança não pode contar com a mãe durante a infância, essa experiência pode gerar muito sofrimento e a crença de que não se pode confiar nas pessoas. Na vida adulta, isso pode se manifestar como dificuldade em formar relacionamentos amorosos saudáveis, caracterizados por desconfiança excessiva, ciúmes exagerados ou incapacidade de se entregar ao outro”, diz. Compreender a origem desse comportamento seria essencial.
“Quando uma pessoa apresenta comportamentos disfuncionais, como dificuldade em criar ou manter vínculos saudáveis, ou sintomas de ansiedade, estresse ou depressão, é importante descobrir a origem dessas disfunções. Se a origem está em experiências de sofrimento na vida familiar, então a pessoa precisa reconhecer que sofreu um trauma e está reproduzindo um padrão de comportamento indesejado, podendo, com tratamento, evitar repeti-lo”, afirma o psicólogo. Ele destaca uma diferença sutil, mas decisiva para um diagnóstico mais preciso. “O trauma é desencadeado por experiências de sofrimento, mas não é exatamente causado por elas”, diz Rodrigo, utilizando um outro exemplo.
“O abuso sexual costuma ser uma experiência traumática, com muitas consequências negativas para a vítima. É comum que mulheres abusadas se sintam ‘sujas’ ou desenvolvam medo intenso e aversão a relações sexuais, além de desconfiança excessiva em relação aos homens. No entanto, nem todas as mulheres abusadas reagem da mesma maneira. O que varia é a crença desenvolvida após a experiência de sofrimento”, pondera o especialista. “Um bom acolhimento familiar, com conversas abertas sobre a ressignificação da experiência, pode ajudar a vítima a não desenvolver crenças negativas sobre si mesma após o abuso”, conclui. Portanto, “como proceder frente aos sofrimentos” seria o primordial.
Fonte: O Tempo