Rumo a um dos piores surtos de dengue já vividos, Minas Gerais perde uma vida por dia para a doença. Em apenas uma semana, foram sete mortes, segundo boletim divulgado nessa segunda-feira (3) pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas. O levantamento mostra que 22 pessoas foram a óbito no Estado por complicações da enfermidade e outras 77 mortes estão em investigação.
Os casos confirmados de dengue em Minas Gerais saltaram de 46.619 no último dia 27 de março para 59.383 nesta semana. Os índices apontam também que os números de chikungunya não param de crescer no Estado. No final do mês passado, o Ministério da Saúde (MS) classificou situação de epidemia em Minas pelas duas arboviroses.
Os diagnósticos de chikungunya aumentaram na última semana. Os dados do Estado mostram que os casos passaram de 10.895 para 13.435. “A gente tem receio que os números possam ser ainda maiores que os notificados. Por isso é necessário que as equipes que atuam nos centros de saúdes sejam treinadas pelos seus gestores e estejam atualizadas. Não tem exames suficientes, então o diagnóstico da doença pode ser feito através da análise do quadro clínico do paciente”, orienta o médico infectologista Unaí Tupinambás.
As mortes com diagnóstico de chikungunya foram de 4 para 6, mas a prefeitura de Montes Claros confirmou no final dessa segunda-feira o que seria a sétima morte pela doença. Trata-se de um idoso de 89 anos que morreu no final de fevereiro, mas teve o resultado da investigação revelado no início desta semana. Sendo assim, das sete mortes confirmadas, apesar das seis confirmações pelo Estado devido à data de divulgação do boletim, quatro foram em Montes Claros. Nas estatísticas oficiais, esse idoso estava entre os 20 óbitos em investigação.
Montes Claros, no Norte de Minas, é a cidade com mais casos de dengue e chikungunya, além de ser o município com mais mortes pela segunda doença.Em meados de fevereiro, o município decretou situação de emergência.
No final de março, a prefeitura de Montes Claros iniciou o serviço ambulatorial de “Reabilitação pós-Chikungunya” para atendimento de pacientes com sequelas ou incapacidade física por acometimento da doença.
Para o infectologista Leandro Curry, a tendência é de que os casos diminuam a partir do outono, mas ele alerta que a nova estação não significa o fim das doenças. “A gente tem que ressaltar que a dengue pode ocorrer o ano todo, só aumenta na época chuvosa e de calor, mas o Aedes tem o ano todo. Quando a gente experimenta em uma sociedade o aumento de casos da doença da arbovirose, tem pessoas infectadas que podem ser picadas e perpetuar algumas semanas e meses. Não é que com o fim da estação chuvosa vai acabar, mas diminui. A tendência é diminuir com o outono. Os ovos de Aedes aegypti, quando são depositados, ficam nas calhas, piscinas, bombonas, pneus, viáveis um ano esperando chegar água para eclodirem. Enquanto houver ovos depositados, qualquer mínima água pode fazer o ovo eclodir e os insetos ficam adultos em poucos dias”, afirmou.
O especialista lembrou que neste momento é importante lembrar sobre a limpeza de locais que podem armazenar água parada. Curry também pontuou que a dengue é uma doença cíclica, onde ocorrem surtos a cada três ou quatro anos, devido aos quatro sorotipos da doença. O médico infectologista explicou que se uma pessoa foi infectada pelo sorotipo 4, por exemplo, ela fica imunize àquele tipo, mas não aos outros três.
O alerta feito pelo especialista vai de encontro a sugestão do médico infectologista Unaí Tupinambás. Para ele, a população e o poder público precisam desenvolver ações para eliminar o foco do mosquito. “Temos que intensificar as medidas de controle do agente transmissor. Acho que isso é o mais importante, além de qualificar a atenção básica a saúde”, pontua.