A endometriose é uma condição que afeta cerca de 190 milhões de mulheres e meninas em idade reprodutiva ao redor do mundo, o que representa aproximadamente 10% dessa população. Embora a causa exata da doença ainda não seja totalmente compreendida, acredita-se que fatores genéticos, hormonais, estilo de vida, estresse e alterações no sistema imunológico possam desempenhar um papel crucial no seu desenvolvimento. A condição pode acometer qualquer mulher que menstrua, com raros casos também surgindo durante a menopausa.
A endometriose ocorre quando células do tecido que reveste o útero (endométrio) crescem fora da cavidade uterina. Em vez de serem expelidas durante a menstruação, essas células se multiplicam e sangram onde se encontram, podendo estar nos ovários (endometrioma ovariano), no meio do músculo do útero (adenomiose), na cicatriz de cesariana (endometrioma de parede), entre outros locais, incluindo bexiga e intestino.
De acordo com a Dra. Jordana Nascimento Pereira, ginecologista e endoscopista ginecológica do Hospital VITA, em Curitiba, os sintomas da endometriose incluem cólicas menstruais intensas, desconforto durante ou após o sexo, menstruação abundante, sangramento fora do período menstrual, dor ao urinar ou evacuar, cansaço excessivo, depressão ou ansiedade, inchaço abdominal e náusea.
Diagnóstico
A Dra. Jordana explica que o diagnóstico da endometriose é complexo e envolve uma combinação de história clínica detalhada, exame físico e exames complementares, como ultrassonografia e ressonância magnética. “É importante destacar que nem sempre o diagnóstico é fácil. Exames sem lesões aparentes não excluem a possibilidade de endometriose, uma vez que acometimentos microscópicos podem causar sintomas, mas raramente são visíveis em imagens. Portanto, a história clínica e o exame físico são fundamentais para um diagnóstico preciso, que pode levar tempo para ser concluído”, acrescenta a médica.
Tratamento
O tratamento da endometriose varia conforme a área afetada e o desejo de gestar da paciente. O principal sintoma que leva à investigação é a dor pélvica. O tratamento pode incluir medicações analgésicas, anti-inflamatórios, anticoncepcionais e, em alguns casos, medicamentos que bloqueiam a produção hormonal para não estimular os focos de endometriose e aliviar a dor. “A fisioterapia pélvica pode oferecer alívio na dor relacionada à atividade sexual e a acupuntura tem mostrado resultados satisfatórios no manejo desses sintomas”, observa a Dra. Jordana.
Quando os sintomas persistem apesar das medidas clínicas ou há acometimentos graves, o tratamento cirúrgico pode ser necessário. A cirurgia pode envolver a remoção das lesões e, em alguns casos, a preservação do útero para manter a fertilidade da paciente. Quando a fertilidade está comprometida, pode ser necessário combinar o tratamento cirúrgico com técnicas de fertilização para aumentar as chances de sucesso. “Quando a endometriose afeta a fertilidade, é preciso um tratamento cirúrgico associado a outras técnicas de fertilização para melhorar as taxas de sucesso”, ressalta a especialista.
Avanços e Gestão da Doença
A Dra. Jordana enfatiza que a endometriose é uma doença de difícil diagnóstico e manejo, mas a medicina tem evoluído significativamente no combate aos seus sintomas. Com tratamentos multidisciplinares, que incluem uma abordagem cirúrgica de qualidade, manejo hormonal eficaz, mudanças no estilo de vida, atividades físicas e dietas bem controladas, é possível controlar a doença e prevenir progressões e recidivas.
Fatores de Risco e Prevenção
Os principais fatores de risco para a endometriose incluem predisposição genética, início precoce da menstruação, ciclos menstruais curtos e abundantes, e mulheres que nunca engravidaram. Estilo de vida sedentário e uma dieta inflamatória também são fatores relevantes.
Para prevenir a endometriose, a Dra. Jordana sugere dois pilares: realizar exames ginecológicos regularmente e adotar um estilo de vida saudável. Exames de sangue e ginecológicos podem ajudar a detectar problemas iniciais e identificar fatores de risco. “Embora mudar hábitos alimentares e iniciar atividades físicas seja desafiador, especialmente para mulheres com rotinas intensas e múltiplas responsabilidades, essa mudança é fundamental para um envelhecimento saudável e ativo”, conclui a ginecologista.
A endometriose continua a ser um desafio significativo para muitas mulheres, mas com avanços médicos e uma abordagem multidisciplinar, a gestão e controle da doença são cada vez mais eficazes.